
Esta conta não pagarás:
- ficará sob uma cinza que não sabes.
Sob a cinza que ainda não sabes
ficará teu filho por nascer
e também os meninos que já sabiam desenhar nos muros.
Ficarão os figos que ontem puseste na cesta.
Ficarão as pinturas da tua sala
e as plantas do teu jardim, de estátuas felizes,
sob a cinza que não sabes.
Os gladiadores anunciados não lutarão
e amanhão não verás, próximo às termas,
a mulher que desejavas.
Tu ficarás com a chave da porta na mão;
tu, com o rosto da amada no peito;
amo e servo se unirão, no memso grito;
os cães se debaterão com mordaças de lava;
a mão não poderá encontar a parede;
os olhos não poderão ver a rua.
As cinzas que não sabes voarão sobre Apolo e Ísis.
E uma noite ardente, a que se prepara,
enquanto a luz contorna a coluna e o jato d'água:
- a luz do sol que afaga pela última vez as roseiras verdes.
Cecília Meireles
Nenhum comentário:
Postar um comentário