Não sei distinguir no céu as várias constelações






Não sei distinguir do céu as várias constelações:
não sei os nomes de todos os peixes e flores,
nem dos rios nem das montanhas:
caminho por entre secretas coisas,
a cada lugar em que meus olhos pousam,
minha boca dirige uma pergunta.

Não sei o nome de todos os habitantes do mundo,
nem verei jamais todos os seus rostos,
embora sejam meus contemporâneos.

Não, não sei, na verdade, como são em corpo e alma
todos os meus amigos e parentes.
Não entendo todas as coisas que dizem,
não compreendo bem de que vivem, como vivem,
como pensam que estão vivendo.

Não me conheço completamente,
só nos espelhos me encontro,
tenho muita pena de mim.

Não penso todos os dias exatamente
do mesmo modo.
As mesmas coisas me parecem a cada instante diversas.
Amo e desamo, sofro e deixo de sofrer,
ao mesmo tempo, nas mesmas circunstâncias.

Aprendo e desaprendo,
esqueço e lembro,
meu Deus, que águas são estas onde vivo,
que ondulam em mim, dentro e fora de mim?

Se dizem meu nome, atendo por hábito.
Que nome é o meu?
Ignoro tudo.

Quando alguém diz que sabe alguma coisa,
fico perplexa:
ou estará enganado, ou é um farsante
- ou somente eu ignoro e me ignoro desta maneira?

E os homens combatem pelo que julgam saber.
E eu, que estudo tanto,
inclino a cabeça sem ilusões,
e a minha ignorância enche-me de lágrimas as mãos.

Cecília Meireles

2 comentários:

Rosemildo Sales Furtado disse...

Será que realmente existe a possibilidade da pessoa atingir um estagio desse, onde desconhece tudo e à todos, e quando do aparecimento de alguém que sabe algo, esse alguém ser taxado de farsante?

Lindo. Parabéns pela escolha.

Beijos,

Furtado.

Sonia Parmigiano disse...

Querido Selma,

Passando em visita para te desejar um Bom Dia e convidá-la a retirar um prêmio em meu Blog Verso & Prosa.

Um grande abraço,
com carinho!

Reggina Moon



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